(IN)ÚTIL AMOR

N. Batista @natally.batista.7
2 min readMar 17, 2022

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Já reprovei — como se esse papel me coubesse — por diversas vezes as exageradas relações entre “gente e bicho” que via por aí… Critiquei mentalmente centenas de vezes o tempo oferecido (ou roubado, como eu costumava avaliar), o dinheiro gasto com “trocentas” coisas, sem contar os danos causados a móveis e tudo o mais que suas patinhas e dentinhos alcançam deixando um rastro de estragos por toda parte. Eu sempre pensei (e talvez eu ainda pense) que para ser tutor de um animal, é preciso ter grana… (o que claramente não encaixa no meu perfil).
Outro aspecto importante a ser considerado diz respeito à sua inutilidade (pragmática que sou, nunca deixo esse ponto de fora). Nunca poderão, por exemplo, te emprestar uma grana ou te dar um conselho acertado num momento de necessidade. Não sabem cozinhar e comem muito. Não sabem limpar, mas sujam com maestria. Logo, se você é uma pessoa de poucos recursos, tê-los é o “contrassenso mais contraproducente” que se pode imaginar. A única boa notícia é péssima: você vai “se apegar” a um serzinho que se tudo der certo, morrerá antes de você. Ou seja, além do início e do meio, no final você também sofrerá.

É claro que pessoas e animais não estão aqui para nos servir — e eu nem sou tão interesseira como ficou parecendo aí em cima (rs). Todavia é natural que busquemos relações desembaraçadas o bastante para tornar as nossas vidas mais fluidas e não mais atarantadas… E no meu antigo ponto de vista, não fazia sentido esse trabalhoso tipo de “encontro”.

Em minha jornada pessoal não houve nada mais precioso do que as experiências que me possibilitaram uma mudança (por vezes radical) de perspectiva. Ontem fiquei surpresa ao perceber que um sorriso de canto de boca foi se fazendo em meu rosto enquanto eu enrolava o carregador do celular completamente mordido por um dentinho “canino” (rs). Não sei se por limitação pessoal de cognição ou da língua portuguesa, é com alegria que eu confesso: não sou capaz de explicar a potência do amor que pode haver entre pessoas e animais.

A Luli me salvou da pequenez de um olhar limitado a respeito do amor. Quando seus olhinhos pretos e brilhantes fixam os meus, apenas sou feliz. Num olhar descuidado cheguei a pensar que tudo que ela pudesse me oferecer fossem arranhões, dentadas e latidas estridentes no ouvido quando eu chego em casa. Mas a verdade é que em poucos dias ela me ensinou muito além do que eu imaginava ser capaz de aprender. Descortinou algumas fraquezas e ampliou grandissimamente o meu campo de visão. O “rastro de estragos”, por dentro e por fora seguem a todo vapor e me impelem no desejo de ser melhor.

Enquanto subo as escadas, seu rabinho empinado se movimenta a “cem por hora”. Em reciprocidade eu corro ao seu encontro: ali acontece o eu te amo mais puro do Universo.

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N. Batista @natally.batista.7

Palavras, palavras, palavras... escrever é gritar, o resto é silêncio (Sob forte efeito de Hamlet deixo a biografia para depois).